O desenvolvimento sustentável e a gestão de compliance em instituições financeiras é o tema que abordaremos neste artigo. Embora para muitos, os termos “Desenvolvimento” e “crescimento econômico” soem como conceitos análogos, não se engane, pois eles não necessariamente caminham juntos.
Vamos entender melhor esse raciocínio!
Desenvolvimento Sustentável e a Gestão de Compliance
Para exemplicar um pouco os termos, imagine o seguinte: se uma empresa aumenta seu faturamento, porém destrói o ecossistema ao redor de suas instalações, podemos dizer que ela cresceu economicamente, correto? Contudo, seu desenvolvimento se deu de forma insustentável — sendo assim, será que foi mesmo um “desenvolvimento”?
Diríamos que está mais para um retrocesso. Foi-se o tempo que as atividades econômicas se davam de maneira indiscriminada, esgotando recursos naturais e prejudicando o meio ambiente. Hoje isso não é aceitável para nenhuma empresa mais, nem mesmo para aquelas que, ao menos aparentemente, parecem não ter relação direta com a exploração ambiental, como as instituições financeiras. Por isso, o desenvolvimento só é “desenvolvimento” de verdade quando é sustentável.
Afinal, qual é o conceito de Sustentabilidade?
Hoje, o conceito de sustentabilidade está intimamente relacionado à responsabilidade social das organizações; é um pensamento limitado definir que a sustentabilidade é restrita a aspectos ambientais, da mesma forma, não devemos assumir que a responsabilidade social se limita a ações em projetos sociais. Os dois funcionam de maneira complementar e o administrador que pretende manter um negócio duradouro e bem-sucedido deve compreender isso para gerar valor nas dimensões econômicas, ambientais e sociais.
Além disso, a ideia de sustentabilidade também tem adquirido contornos de vantagem competitiva. Foi exatamente esse fator que permitiu a expansão de alguns mercados, que em meio a tantas crises e mudanças ao longo dos anos, enxergaram como premente a necessidade de se oferecer melhores serviços e produtos, avaliar seus padrões de qualidade e o grau de riscos, dando origem assim à área de compliance dentro das empresas.
Já sabemos que uma empresa com o compliance em dia garante mais credibilidade frente a clientes, fornecedores, acionistas e colaboradores, pois atua de forma transparente e assegura que a estrutura organizacional e procedimentos internos se mantenham em conformidade com as normas e leis, minimizando assim riscos e perdas (e como consequência, aumentando a lucratividade).
Sendo assim, considerando os conceitos de sustentabilidade e compliance, qual seria a importância de ambos para as instituições financeiras?
Responsabilidade coletiva
Quando uma empresa comete uma infração perante as leis socioambientais, como desmatamento, poluição de rios e mares, incentivo ao trabalho escravo ou infantil, as instituições que as financiam também podem responder a processos legais, pois de um modo ou de outro estariam financiando tais práticas criminosas. Sendo assim, as instituições financeiras envolvidas são tidas como corresponsáveis.
É por isso, que muitos bancos estão se adaptando para a adoção de boas práticas, realizando inclusive a avaliação de riscos daquelas organizações que visam financiar.
Através do Protocolo Verde, por exemplo, as instituições. bancárias reconhecem que podem cumprir um papel indutor fundamental na busca de um desenvolvimento sustentável que vislumbra a preservação ambiental e uma melhoria contínua no bem-estar da sociedade de modo geral.
Compliance: zelo pelo comportamento ético
Outra questão importante é que o compliance, por sua natureza, é uma ferramenta que ajuda a zelar pelo comportamento ético e pela conduta daqueles colaboradores que compõem uma instituição — e numa instituição financeira onde muitas vezes há acesso irrestrito a quantias vultosas de dinheiro, isso é essencial.
O combate a fraudes e à corrupção por meio de boas práticas de governança corporativa tem sido associado diretamente à noção de responsabilidade social das empresas; basta pensar no estigma negativo que toda organização passa a carregar quando há o estouro de algum escândalo financeiro.
Uma pesquisa realizada em 2004 pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) constatou os benefícios que o compliance traz às instituições financeiras:
- Aumento na qualidade e velocidade de procedimentos internos e externos
- Melhoria nos relacionamentos com acionistas e clientes
- Aumento no desenvolvimento de novos produtos para o mercado
- Disseminação de elevados padrões éticos/culturais dentro da organização
- Melhor acompanhamento das correções e deficiências (não-conformidades)
O que as empresas precisam fazer?
Cada vez mais se faz e se fará necessário que as áreas de compliance e de risco socioambiental caminhem lado e lado, tanto na prevenção de fatores capazes de provocar a degradação ambiental quanto na melhoria de processos que vão beneficiar a sociedade como um todo.
Esqueça aquela imagem clichê que relaciona a preservação ambiental a indústrias despejando seus resíduos em rios, soltando fumaça tóxica por suas chaminés ou realizando queimadas em florestas. Nada mais ultrapassado.
O desenvolvimento sustentável não é um problema limitado às adequações ecológicas, e sim um modelo a ser seguido pela sociedade. A noção de desenvolvimento sustentável define as relações entre homem e natureza e, deste modo, define também o processo civilizatório propriamente dito.
Daniela Pedroza | CEO VG – Ambipar
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